Barata Eletrica20:(GRANDE20.TXT):20/02/1999 << Back To Barata Eletrica20


A FOFOCA NOS TEMPOS DA GLOBALIZA╟├O (de novo)(r) Derneval Ribeiro Rodrigues da Cunha Alguns leitores jß devem ter visto que esse Θ um assunto que curto trabalhar. Meu maior medo da revoluτπo informßtica Θ que os computadores controlem cada passo da vida do homem. Jß coloquei este assunto em n·meros anteriores do fanzine e volto a colocar de novo. Uniπo EuropΘia estß pensando em que George Orwell tinha razπo. Estπo cogitando "grampear" chamadas telef⌠nicas via satΘlite sem autorizaτπo, entre outras coisas. ╔ um lance rolando entre a UE, os EUA, o Canadß, Nova Zelπndia e atΘ a Noruega, que estß fora da coisa. Tudo em nome de combater o terrorismo. Interessante porque as nossas companias telefonicas foram vendidas para companhias desses paφses. Talvez rolem mais "grampos" nas notφcias, entπo. Que melhor forma de chantagear um membro de um governo do que expor mazelas polφticas? Veja tudo em [imagem par≤dia http://www.Genocide2600.com/~tattooman/unix-humor/gallery/] http://www.wired.com/news/news/politics/story/16588.html?wnpg=2 http://www.Genocide2600.com/~tattooman/ unix-humor/gallery/ Esta imagem - par≤dia foi retirada do Engraτado Θ esta outra,vocΩ pode ler melhor no ttp://www.fcw.com/pubs/fcw/1998/1102/web-nsa-11-05-98.html . Sabe o que estß rolando? Acredita em teoria de conspiraτπo? Melhor acreditar.. A Uniπo EuropΘia, que estaria pensando em "grampear" em nome da luta contra o terrorismo, estß investigando se a NSA, agΩncia norte-americana especializada em escuta, monitoria de informaτπo codificada, defesa da criptografia americana, etc, etc, etc, se essa agΩncia nπo estß abusando. De acordo com o ComitΩ de Opτ⌡es Cientφficas e Tecnol≤gicas do Parlamento Europeu, todas as comunicaτ⌡es via correio eletr⌠nico, telefone e fax estariam sendo interceptadas atravΘs de um hub em Londres e depois enviadas para os EUA. O nome c≤digo do projeto Θ Echelon. Bonito nome, nπo? Sei lß. Um sujeito chamado Nick Hager denunciou, num livro chamado "SECRET POWER", umas coisas interessantes: como o GCSB (Government Communications Security Bureau), que Θ uma agΩncia secreta da Nova Zelπndia, a espionar para o NSA (National Security Agency, encarregada da criptografia americana), sua colega de profissπo. S≤ que, ao contrßrio dos tempos da Guerra Fria, em que a espionagem era feita pensando no inimigo vermelho, agora ela esta sendo feita em alvos nπo militares ou seja: governos, organizaτ⌡es, neg≤cios e indivφduos. A idΘia nπo Θ ficar espionando especificamente um email ou telefone de uma pessoa s≤, dentro desse mundarel. Nπo. A idΘia Θ ficar ouvindo tudo e colocar computadores para identificar palavras chaves que ativariam as maquininhas de gravaτπo. Mais ou menos assim. Uma palavra chave pode ser nome, localidade, assunto, etc e ao ser proferida pelos sistemas de comunicaτ⌡es, ela Θ checada por computador se nπo estß na lista de "coisas interessantes". Tudo comeτou por conta do tempo da Guerra Fria. UKUSA, um acordo ultra secreto entre governos. O projeto SHAMROCK foi iniciado para conseguir c≤pias de todas as informaτ⌡es telegrßficas entrando ou saindo dos EUA e contou com a colaboraτπo da RCA, ITT e Western Union (as companhias responsßveis pela telegrafia lß, o equivalente da Embratel, talvez). Os primeiros computadores fabricados foram usados nessa est≤ria. Que foi um sucesso para a CIA e o NSA, atΘ 1975 (no pique da coisa eram 150.000 mensagens por mΩs). Como a opiniπo p·blica ficou sabendo, a coisa foi parada. Um projeto "irmπo" o MINARET, foi feito e envolvia a criaτπo de "listas de vigilπncias" (listas negras) incluindo gente como Martin Luther King, Jane Fonda, Joan Baez, etc.. tambΘm foi fechado quando o Departamento de Justiτa ficou por dentro da hist≤ria. Entre 67 e 73, cerca de 5,925 estrangeiros e 1,690 organizaτ⌡es e cidad⌡es americanos foram incluφdos na coisa. A CIA criou o projeto CHAOS que visava espionagem domΘstica. Jß no tempo do Johnson (quando a guerra do Vietnπ comeτou a ficar sΘria) foi organizado o projeto RESISTANCE que visava as organizaτ⌡es contra a guerra, tipo quem eram os ativistas e os dissidentes polφticos. Os dois viraram um s≤, depois que Nixon assumiu a casa branca. E por aφ vai.. O principal jogador aφ Θ a NSA. Os computadores dentro deste network sπo conhecidos como os "dicionßrios Echelon". Sπo vßrios e existem desde 1970, mas atualmente estπo funcionando como um s≤, ligados em rede. Cada um contendo e ouvindo comunicaτ⌡es de acordo com palavras chaves de vßrias das agΩncias que compoem o projeto, a CSE (Communications Security Establishment) do Canadß, a Government Communications HeadQuarters (GCHQ) na Inglaterra e a GCSB da Nova Zelπndia. Se um destes "dicionßrios" (ou postos de escuta, dß no mesmo) encontram uma palavra-chave que interessa a agΩncia de um outro paφs, a coisa vai automaticamente para a agΩncia de destino, como se cada um desses paises tivesse uma base de escuta em cada canto do mundo. Em outras palavras, vamos supor que uma pessoa procurada pela polφcia na Nova Zelπndia estivesse no Canadß. Ao digitar o n·mero do telefone de um vizinho da mπe dele, por exemplo. Se esse n·mero estivesse na lista de prioridades do computador dicionßrio da Nova Zelπndia, jß nos EUA a conversa do cara comeτaria a ser rastreada. Se num email, o mesmo endereτo ou n·mero do telefone aparecesse, mesma coisa: haveria um forward da mensagem para o pessoal lß perto da Austrßlia. Parece uma coisa distante, nΘ? AlguΘm jß notou que a imprensa brasileira fala quase nada do Peru? Existe uma ditadura lß e censura a imprensa. Mas.. a guerrilha contra o presidente Fujimori foi vencida. O principal lφder do Sendero Luminoso, foi preso, graτas a escuta telef⌠nica feita por computadores, tecnologia americana. Desse jeito A mais poderosa dessas estaτ⌡es eu jß comentei num n·mero anterior do Barata ElΘtrica (www.inf.ufsc.br/barata/barata5.html#THEHILL). A estaτπo da NSA de Menwith Hill tem 22 terminais de satΘlite e quase 5 acres de edifφcios. ╔ a mais poderosa do mundo e influiu na guerra do Golfo. Funciona tambΘm como estaτπo de espionagem dos satΘlites americanos. Intercepta tudo, atΘ Walkie-Talkie. Tem outras, como a Pine Gap em Alice Springs no centro da Austrßlia, a de Bad Ailbling na Alemanha. Tudo escutando o que o mundo estß dizendo. Esta informaτπo foi descoberta por velhinhas que jß do tempo da guerra fria nπo gostavam muito da idΘia de que sua cidadezinha servisse de alvo para um ataque nuclear. Como queriam que esse povo todo fosse embora, fizeram vßrias incurs⌡es no que seria territorio top-secret e .. informaram a imprensa o que conseguiram. Na verdade o sistema funciona como uma rede de pesca. Vai armazenando de acordo com as palavras chave. Depois um grupo de analistas vai separando o resultado, se a mensagem vale a pena, etc.. cada "peixe" tem hora, local, data, destino e outras informaτ⌡es relevantes e fica catalogado em c≤digos, de acordo com a agΩncia para qual a informaτπo Θ relevante. Existem programas lß dignos de ficτπo cientφfica ultrapassada, como programas de reconhecimento de voz que convertem a fala em texto passφvel de ser monitorado por computador. Milh⌡es de mensagens a cada hora, 24 horas por dia, de segunda a segunda. A capacidade de ouvir nπo adianta nada sem a capacidade de "digerir" o que foi ouvido. AlΘm da estaτπo de Menwith Hill existem vßrias outras para conseguir esse prodφgio: STEEPLEBUSH - 160 milh⌡es em vigilπncia de satΘlites, foi completada em 84 RUNWAY - Recebe sinais de satΘlite Vortex e trßfego da Europa, Asia e antiga URSS. Faz o "forward" pra Menwith Hill. PUSHER - cobre a frequΩncia HF entre 3 e 30 MHz ( rßdio-amador, walkie-talkie e outros rßdios). Pega tudo, incluindo comunicaτ⌡es de embaixadas, aΘreas e militares. MOONPENNY - Pega satΘlites de comunicaτ⌡es de outros paφses, assim como do oceanos AtlΓntico e ═ndico. KNOBSTICKS I e II - desconhece-se o objetivo GT-6 receptor de satΘlites geosincr⌠nicos chamados de Advanced Orion ou Advanced Vortex. TambΘm pega o Advanced Jumpseat. STEEPLEBUSH II- expansπo do I, digere informaτπo do RUNWAY. SILKWORTH - construφdo pela Lockheed, processa a maior parte das informaτ⌡es coletadas. A coluna vertebral dessa escuta sπo os satΘlites Intelsat e Inmarsat, que fazem o grosso do trafego de comunicaτ⌡es entre e dentro de vßrios paφses e continentes. Sπo para fins civis (tipo transmissπo de notφcias, etc) mas tambΘm carregam comunicaτ⌡es diplomßticas. Outros sπo os satΘlites de espionagem americanos, capazes de "chupar" tudinho tudinho em termons de comunicaτπo via celular, ondas curtas, que rola no solo. Mas o que fazem, estas estaτ⌡es? Pra justificar sua existΩncia, jß que os russos nπo sπo mais o grande perigo, o alvo agora sπo informaτ⌡es comerciais e econ⌠micas. Alguns exemplos: * Em 1990, a revista alemπ Der Spiegel revelou que o NSA interceptou mensagens sobre um acordo em andamento de 200 milh⌡es de d≤lares entre a IndonΘsia e a empresa japonesa de manufatura de satΘlites NEC. * Lembra do caso SIVAM? Pois Θ, a CIA e o NSA interceptaram chamadas telef⌠nicas entre oficiais brasileiros e firma francesa Thomson-CSF. A Raytheon americana tava competindo pelo lance de instalar radares na Amaz⌠nia. * A revista Insight revelou numa sΘrie de artigos que o Presidente Clinton ordenou ao NSA e ao FBI que montassem uma gigantesca operaτπo de interceptaτπo na ConferΩncia Econ⌠mica Pacφfico/Asißtica organizada em Seattle. Bom, por aφ se pode entender porque os EUA consideram que exportaτπo de tecnologia de criptografia equivale a contrabando de armas. S≤ atravΘs da criptografia alguma coisa pode ser escondida. Alguma privacidade, mantida. Como essa informaτπo Θ usada? Perguntem pro nosso presidente em exercφcio. Vßrias conversas telef⌠nicas e fitas jß serviram de farto material de imprensa, detalhando coisas que atrapalharam o mandato. Pode-se torcer contra o cara, mas o fato Θ que informaτπo confidencial nπo cai na mπo da imprensa fora de hora. Cai quando pode fazer dano. E da mesma forma que "fofoca" nπo significa nada num contexto, em outro significa tudo. A forτa de um boato Θ enorme. Se houver noticias que fundamentem, maior o problema. E quando a coisa cai na boca do povo, a ·nica coisa que se escuta Θ o que mais danifica a reputaτπo da pessoa. Porque o volume do burburinho Θ alto e a ficτπo interessa mais do que a realidade. Pra se fazer ouvir Θ preciso gritar e ninguΘm entende um grito feito fora de contexto. Isso Θ vßlido pra qualquer caso envolvendo boatos. Nπo Θ difφcil de imaginar entπo o valor de um sistema capaz de vigiar a vida de cada cidadπo para um governo totalitßrio. Na democracia mesmo essa informaτπo sobre a vida privada tem um valor incalculßvel. Graτas a estatφsticas e listas sobre quem compra o que, as empresas sabem quanto elas podem aumentar sua margem de lucro sem haver chiadeira da populaτπo ou perder a popularidade. Imagina s≤: identifica-se quantas pessoas estπo realmente desesperadas por um produto X independente da qualidade e lß vai esse produto ser produzido. Ou.. tcham, tcham.. quantos caras a FORD pode demitir sem que seus colegas sejam solidßrios.. o exemplo Θ ruim, mas Θ pra entender onde eu estou querendo chegar. E a privacidade das pessoas s≤ vira assunto quando aparece no programa do Ratinho. NinguΘm pensa em defender sua intimidade. Acha que vai virar notφcia no Fantßstico e nπo nas pßginas policiais. Nπo compreende que Θ preciso se preocupar com isso. E tem que ser hoje. Amanhπ pode ser tarde demais. BIBLIOGRAFIA: Me baseei nos seguintes textos para produzir o texto acima. HAGER, Nick: Exposing the Global Surveillance System; Covert Action Quaterly POOLE, Patrick S. Poole: Echelon: America's Secret Global Surveillance Network