Barata Eletrica nº22:(HACKPOA.TXT):08/01/2000 << Back To Barata Eletrica nº 22
Pßgina Inicialhttp://www.inf.ufsc.br/barata Email derneval@bigfoot.com ═ndice barata22.html HACKERS, CRACKERS & PHREAKERS EM PO┴ "Quando eu ando assim meio down.. vou pra Porto e Bß! Tri-legal.. " (M·sica de Kleiton e Kledir) Derneval R.R. Cunha A primeira vez que fui em Porto Alegre fazem quase dez anos, pelo SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da CiΩncia). Uma das coisas boas de se entrar pra faculdade. VocΩ pode se inteirar da produτπo cientφfico cultural do Brasil e ainda conhecer outras capitais. Para alguΘm como eu, acostumado com a vida em Sπo Paulo e Rio de Janeiro (onde se desconfia de tudo e de todos), a cidade Θ cheia de surpresas agradßveis. A comida, por exemplo, Θ boa e nπo Θ cara. A populaτπo Θ acolhedora ao extremo (vocΩ faz uma cara de quem estß perdido, jß te perguntam se podem ajudar). ╔ tπo estranho, mas tπo estranho, essa hospitalidade (olha que eu tenho hist≤rias e hist≤rias) que parece piada. Eles Θ que estπo certos, devia ser assim em todo lugar do planeta. Claro, no interior do Brasil pode se encontrar muitos lugares hospitaleiros. Mas nπo numa capital de estado.. sei lß.. Outra cultura, outra colonizaτπo. Dß um medo de pisar na bola que Θ terrφvel. Alguns anos depois, voltei de novo, para conhecer a Fernanda Serpa, responsßvel pela campanha "Support Kevin". A primeira em todo mundo a defender os direitos humanos do Kevin Mitnick. Hoje, atΘ a revista Forbes reconheceu que o Hacker em questπo nπo teve um tratamento justo pela legislaτπo americana. Mas quem viu isso primeiro foi ela. De total ignorante de informßtica foi fuτando atΘ conseguir ver algumas pessoas comeτarem a adotar idΘias DELA. Ativista da Anistia Internacional, lutou e conseguiu ser ouvida. O pessoal foi atrßs e montou suas pr≤prias campanhas. Sem darem o devido crΘdito, paciΩncia. Algum dia esta hist≤ria serß contada (t⌠ escrevendo). Fiquei alguns dias lß, conheci algumas pessoas. Dessa vez, fui de novo pelo ⌠nibus do SBPC, mas com outro objetivo acadΩmico. Conhecer o computer underground de PO┴ (Porto Alegre, para os φntimos). Nπo foi muito fßcil. Tive que comparecer α varios encontros. Negociar o que ia falar, o que nπo ia. Convencer que eu era um cara que merecia confianτa, ao contrßrio da maioria dos jornalistas, que s≤ querem saber de sensacionalismo. E mesmo convencendo foi difφcil. Agora, falando sΘrio (o parßgrafo acima foi piada)... nπo foi tπo difφcil assim. Fiquei hospedado na casa de alguns membros do grupo. E todo mundo se conhece. De vista, de chat, de festa ou por conhecer a "Ema". Uma figura central no chat da tchurma, um canal que nem vou falar o nome, num provedor do Rio Grande do Sul. Invite-only. Nπo precisei me apresentar. Pelo contrßrio. De acordo com muitos, o fanzine Barata ElΘtrica foi o primeiro nas BBSes de todo o RS, apesar de feito para a Internet. Pelo jeito, foi o primeiro de muitas BBSes de todo o Brasil. Precisei ir lß para ouvir isso. Foi uma fila de pessoas me hospedando. O primeiro que conheci foi o Chacal. Fiquei na casa dele alguns dias. Nπo parece rato de computador, a primeira vista. AtΘ comeτar a conversar contigo. O mais pr≤ximo que jß encontrei de um dark-side hacker, tipo Kevin Poulsen. Merecia uma biografia. Conhece algo de telefones, para variar. S≤ anotei uns papos. ╔ daqueles que mata a cobra e mostra o pau (de acordo com depoimentos, em vßrios sentidos). Nada de Nerd, cheio de mulheres. Coyote foi outro, me deu umas idΘias muito boas sobre o que Θ a geraτπo ano 2000. O pessoal que usa internet atΘ para namorar. Outros que conheci foram o Bash (autor de um fπ-zine sobre linux), o Naja (maior papo legal), Whirred (um que jß sofreu altos problemas e hoje abandonou um pouco a fuτaτπo). Acho que nπo esqueci ninguΘm.. ah, sim.. No sßbado antes de ir embora, a Ema me fez o "grande" favor de colocar frente a frente os dois mais famosos fanzineiros do computer underground nacional. Entre parΩnteses porque a princφpio, nπo era muito fπs da idΘia de conhecer a moτada que fez o Axur05. Mas seria a mesma coisa que ir a Paris e nπo subir na Torre Eiffel (se bem que jß fui em Paris, morei meses naquela cidade-luz e nπo fiz isso, de prop≤sito). Entπo, o pessoal fez toda aquela festa de hacking e fui lß, apertar a mπo do pessoal que me xingou um pouco, nos primeiros n·meros. Gente fina, o Cshell. Infelizmente conversamos pouco tempo (s≤ 2 ou 3 horas). AtΘ concordei em tirar uma foto junto com ele e o Acid (que pedi para nπo divulgarem). Altas trocas de experiΩncias em termos do que Θ fazer um fanzine no Brasil. Foi interessante ouvir que sim, tal como eu pensava, a idΘia deles nπo era me deixar por baixo, mas estabelecer um novo tipo de Fanzine, com outro tipo de Θtica. Foi o que entendi. Apesar que ainda assim fiquei meio chateado por conta da atitude de um (agora ex) membro do fanzine.( Imagina s≤ o que Θ estar no meio de um encontro de hackers e ouvir alguΘm falar na sua frente: "Barata ElΘtrica? Maior podreira, meu " ficou todo mundo rindo da gafe do cara que nπo sabia quem eu era). Minha idΘia foi fazer a cabeτa da moτada. Eles tambΘm tinham consciΩncia desse lance. Mas tinham que chutar o pau da barraca com alguΘm e meu fanzine era o que tinha mais evidΩncia. Propuseram fazer uma ediτπo conjunta, seria o lado tΘcnico deles mais a ret≤rica que Θ minha caracterφstica. Nπo sei. Quando terminar um dos livros, conto mais desse papo que foi muito bom e valeu a pena. O que mais me impressionou no grupo (que nπo tem um nome, Θ apenas uma turma normal, guardadas as devidas proporτ⌡es e descontando a alta capacidade tΘcnica e "tara" por Linux) foi o quanto o pessoal se distancia da imagem de Nerd. Sim, alguns, como o CShell, comeτaram tipo 10 anos de idade. Outros como o Noface, o cara jß pintou e bordou meio mundo afora, tem uma biografia extensa (a entrevista dele fica para ... ooooouuuuutra ocasiπo) como hacker, cracker, phreaker, etc. Mas Θ um pessoal que sai a noite, vai em festas, faz festas, tem namoradas (um ou outro usa o termo no plural). Zoam pra caramba (Chacal quando tß afim, faz uma voz de mulher que engana bem).. Me senti meio velho. Tanto que me levaram numa boite. Aqui em Sπo Paulo eu nπo vou, normalmente. Estava hß anos namorando a mesma menina e nunca fui disso. "Ficar" Θ uma palavra que ainda nπo entendi direito. Aφ chego lß e.. Θ o tipo de lugar onde NINGU╔M Θ de NINGU╔M (coisa difφcil de entender, a palavra Swing nπo faz parte do vocabulßrio ga·cho, verdadeiro tabu). Um exemplo tambΘm de como as coisas sπo o contrßrio lß. Em Sπo Paulo, um espaτo "cult" acaba virando um espaτo "gay". Lß, um espaτo "gay" virou "cult", abriu para o p·blico. E .. tinha um alguns gauchos se beijando lß. E mulher bonita pra caramba. Tipo: VΓnia Candia, AndrΘa Greco, Ana Elisa Peixoto, M⌠nia Vogel, Patrφcia Lessa, Aneliese Schulman, Solange Fischborne, Marta Moesch.. (capa de Playboy ou Ele-Ela). Coisa de cair o queixo. Uma boa parte, loiras ou morenas de olho azul, verde, cinza, etc.. Nπo tinha "nπo existe mulher feia foi vocΩ que nπo bebeu demais". Fiquei tπo besta que cheguei a perguntar pra uma delas se ela entrava no Chat ou se conhecia o fanzine Barata ElΘtrica. Coisa de Nerd, nΘ? Pois Θ. Muito tempo namorando a mesma pessoa enferruja. O pessoal morreu de rir quando me viu fazendo isso. Devem estar comentando atΘ hoje. O fato Θ que, apesar de hacker em PO┴ ter a maior fama entre o mulherio, voltei sem ter conhecido ninguΘm, no sentido bφblico da palavra. Teve um cara que se inclinou como os japonΩses fazem (em sinal de respeito), quando soube quem eu era. Sinceridade. Nπo Θ porque os caras te conhecem. Qualquer pessoa na rua te trata como se te fosse teu amigo. Mas ouvi uma hist≤rias boas, suficiente para uns dois livros. Uma boa foi quando um lamer apareceu numa festa. Todo mundo conhece todo mundo e ninguΘm sabia quem tinha chamado o cara. Festa s≤ de linuxeiro e micreiro esperto. O cara tinha chegado falando que fazia e acontecia. Interessante como nπo basta ser lamer, tem que se mostrar. E falava, e falava. Tinha lido o "M@rmiteiro e a Rede" todinho ou outro texto qualquer, se achava o mßximo. Botaram um teclado e monitor na frente dele para demonstrar. Nπo sabia fazer nada. Aφ o pessoal resolveu fazer uma disputa: quem errasse, bebia um copo de vinho. Daquele tipo "sangue de boi". Quando algum cara da turma errava, colocavam meio copo. Quando o tal lamer errava, era um copo inteiro. Desmaiou de tanto beber. Faltou o toque final. Jogaram clara de ovo na cueca dele e.. falaram que o sujeito nπo era mais virgem. Uns dias depois desmintiram, antes que fosse num psiquiatra ou na polφcia, falando que tinha sido estuprado. Nem vale a pena comentar um cara desses. ╔ bom saber que existem as m@τ@s podres, porΘm. Denorex. Se aparecer um cara num jornal querendo se mostrar como hacker, se liga. NinguΘm tem muita vontade de aparecer. O pessoal lß jß se tocou como a imprensa trata o assunto de forma sensacionalista, buscando sempre o "Dißrio de um jovem Envenenador " (filme atΘ razoßvel, embora meio deprΩ). Em outras palavras, uma confissπo de crimes. Alguns dos caras que conheci praticaram alguma forma de acesso nπo autorizado. Mas nπo tive muitos detalhes. O que me faz pensar que sπo gente fina. Caras que ficam se gabando na TV de ter feito isso e aquilo tropeτam no que dizem, cedo ou tarde. Praticamente todo mundo lß s≤ usa Linux. Respiram Linux. ICQ de linux, Smart Office, Perl, etc.. Linux tudo (poucos usam Red Hat, ou Θ Debian ou Θ Slackware - coisa pra fuτador mesmo). E Θ para aprender a fuτar, nπo para ficar detonando a vida dos outros. Caras que se viram para o computador unicamente como forma de ganhar dinheiro perdem espaτo ou saem do grupo. ╔ a geraτπo do ano 2000. O computador tomando o papel do que foi o telefone e se tornando uma extensπo da vida da pessoa. Ainda volto lß, qualquer dia.