2002 << Back To Barata Eletrica nº 27

Nächste Datei: barata27.txt >>

Homepage Blog do Fanzine ═ndice No 27 ═ndice N·meros Anteriores Contato http://barataeletrica.cjb.net http://www.inf.ufsc.br/ Versπo Txt http://www.barataeletrica.rg3.net ____ _____ _ _ _ _ |___ \|___ / ___ ___ / \ | |_(_)_ _(_)___ _ __ ___ ___ __) | |_ \ / _ \ / _ \ / _ \| __| \ \ / / / __| '_ ` _ \ / _ \ / __/ ___) | | __/ | (_) | / ___ \ |_| |\ V /| \__ \ | | | | | (_) | |_____|____/ \___| \___/ /_/ \_\__|_| \_/ |_|___/_| |_| |_|\___/ _ _ _ | | | | __ _ ___| | _____ _ __ | |_| |/ _` |/ __| |/ / _ \ '__| | _ | (_| | (__| < __/ | |_| |_|\__,_|\___|_|\_\___|_| Derneval R.R. Cunha A grande maioria das pessoas que estπo escrevendo pseudo-livros sobre hackers entendem pouco ou quase nada disso. Julgam que o sujeito Θ "hacker" porquΩ invade micros. Procuram o r≤tulo e nπo o conte·do. Parece atΘ que Θ remΘdio para alguma coisa. "Compre livro hacker e acabe com os seus problemas financeiros". "Compre livro hacker e impeτa os invasores ". "Compre 3 livros hacker e vire um super-hacker". O pior Θ que o r≤tulo Θ uma coisa, o conte·do Θ outra. A pessoa compra o livro achando que irß ser um "super-hacker", viver "super-aventuras" e passar a perna em todo mundo. Que que acontece? Os jornais associam vandalismo eletr⌠nico α esse r≤tulo. E aqueles que acreditam em coisas como Θtica hacker, em software livre, em experimentar com vida artificial, que se danem. O r≤tulo "hacker" ficou sendo uma cesta onde cabem todos os tipos de conotaτ⌡es e denominaτ⌡es. Parece atΘ que a pessoa pode fazer vandalismo eletr⌠nico, desde que use o r≤tulo "hacker". Da mesma forma que o soldado pode matar, desde que esteja seguindo ordens. ╔ interessante falar sobre isso antes de entrar no assunto do Ativismo hacker. As pessoas nπo entendem muito a diferenτa. O ativismo Θ algo feito de vßrias formas, inclusive atravΘs de meios eletr⌠nicos. Alguns dos exemplos mais famosos sπo os Zapatistas no MΘxico e Timor Leste. No caso dos Zapatistas, a difusπo da causa pela internet causou repercussπo mundial e obrigou o governo mexicano α rever sua polφtica com as populaτ⌡es indφgenas. O que antigamente teria terminado em massacre, teve um fim menos trßgico, graτas α essa divulgaτπo. Timor Leste, todo mundo sabe. Hoje. Antigamente era algo ignorado pelos jornais. Uma ilha dividida em duas, metade de colonizaτπo portuguesa, portanto nossos irmπos de lφngua e a outra metade, parte da IndonΘsia, um paφs formado por um aglomerado de ilhas e que ocupou a regiπo, tentando se impor pela forτa. Graτas α divulgaτπo, inclusive com a ajuda de "hackers" que espalharam para o mundo todo a notφcia de que lß acontecia um verdadeiro massacre ou mesmo genocφdio, a IndonΘsia abandonou a regiπo e um povo ganhou novamente sua autonomia. Houve tambΘm um grande ativismo (ou falamos de "hacker "- ativismo) no caso Mitnick, quando a jornalista Fernanda Serpa, de Porto Alegre, na Θpoca trabalhando voluntßrio para a Anistia Internacional, comeτou a divulgar para o mundo o fato de que estavam negando os direitos humanos do acusado. De email em email, fez-se uma pßgina pedindo a todos que mandassem cartas pedindo providΩncias, tudo isso disponφvel em http://www.inf.ufsc.br/barata/mitnick.htm e o fato de que os crimes do "hacker" nπo estavam sendo julgados de forma adequada se tornaram a bandeira de um movimento, o "FREE KEVIN", que foi bem sucedido. O que Θ ativismo, entπo? Entre outras, Θ tomar parte ativa e lutar por uma causa considerada justa. Tem a ver com aquela coisa de se tornar cidadπo, de lutar pelos direitos que estß tπo em voga, nos dias de hoje. Mas tem tambΘm a ver com grandes causas, vide a questπo da ALCA. Se uma lei Θ injusta, devemos simplesmente aceitar e torcer para que melhores dias aconteτam? Ou devemos tomar parte ativa e conscientizar para que seja alterada? O filme 23 fala um pouco sobre tudo isso. E mais alguma coisa. Infelizmente, vocΩ nπo vai encontrß-lo com facilidade em video-locadoras, vide a bibliografia abaixo. Assisti numa mostra de filme alemπo, anos atrßs.Trata-se de um filme alemπo que comenta os incidentes relatados no "Cuckoo's Egg", livro do Clifford Stoll. Que por sua vez, fala de um estudante de astronomia que aceita um emprego como mantenedor de site internet. Isso, no tempo do telnet, quando tudo o que vocΩ podia fazer era mandar emails e pesquisar informaτ⌡es no modo texto. Nada de microsoft. Era via telefone, modem de 2400 e outras coisas do gΩnero. Clifford relata todas as dificuldades para se alertar as agΩncias de seguranτa e depois, o julgamento do "hacker" na Alemanha, no qual tomou parte como testemunha. No livro de Markoff, "Cyberpunk" (altamente tendencioso e anti-hacker), tambΘm hß uma descriτπo do caso, narrada do ponto de vista dos alemπes, que eram a outra parte no caso. Diferente do texto de Markoff, o filme "23" Θ uma tentativa de analisar o fen⌠meno como um ativismo "hacker" que acabou em porcaria. Anos 80. Para entender o filme Θ preciso saber que na Θpoca, (e tambΘm a hist≤ria em si), o mundo estava dividido entre EUA e URSS. O bem e o impΘrio do mal. O primeiro mundo e o terceiro mundo. Quem estß fazendo vestibular Θ que vai estudar isso mais a fundo. Quem viveu naquela Θpoca sabe que o temor da guerra nuclear era enorme. Havia quem achasse que nπo irφamos viver atΘ o ano 2000. A Alemanha era dividida em dois paφses, Alemanha Ocidental (capitalista) e a Alemanha Oriental (comunista). Meio difφcil essa questπo ideol≤gica. Mas havia um grande ativismo contra a construτπo e o uso de usinas nucleares, na Alemanha Ocidental, onde se passa a maior parte da hist≤ria, mais especificamente Hannover. Os alemπes sπo entusiastas fanßticos em defesa do meio-ambiente e a construτπo de usinas nucleares vai contra tudo. A hist≤ria baseia-se em Karl Koch, filho de um jornalista famoso (e reacionßrio), que adere αs passeatas contra as usinas nucleares, o imperialismo norte-americano, etc.. Libertßrio fanßtico, depois de levar muitos jatos de "brucutu" e conhecer ativistas, fica fissurado no livro "Illuminatus", do Robert Anton Wilson (*). O livro narra a hist≤ria de um her≤i contra uma espΘcie de conspiraτπo internacional, tipo mßfia ou maτonaria. Os membros se conhecem pelo n·mero 23. ╔ preciso comentar que todos os grandes acontecimentos feitos por essa mßfia (nπo vou falar maτonaria porquΩ tive parente maτon) ou por seus membros, denominados "Illuminatii" (o plural Θ o mesmo de vφrus - virii), trazem o 23 em algum momento. Ou acontecem no dia 23 ou αs 23 horas, ou α hora tal e 23 minutos, etc, etc.. e os Illuminatii estπo em toda parte. Seriam coordenados α partir de um submarino gigantesco via rßdio (no livro). O Karl adora as idΘias do livro. Pesquisa a Maτonaria, pesquisa eventos mundiais e comeτa realmente a ver "23 " em tudo. ╔ como a marca da besta. Seu pai morre, deixa-lhe uma heranτa. Ele aluga um apartamento, investe em drogas e comeτa a fazer festas contra o sistema. AtΘ aφ estß de acordo com o livro de Markoff. Como Θ o tempo do filme "Wargames" e os computadores comeτam a aparecer em tudo quanto Θ lugar, ele compra o seu e comeτa a se interessar pelo assunto, mais ou menos na mesma Θpoca em que o Chaos Computer Club estava fazendo seu inφcio. O problema Θ que ele se envolve mais com drogas, com caras que usam drogas e com outros viciados em informßtica, tudo junto, sem deixar o ativismo de lado. Comeτam a invadir computadores nos EUA. AtΘ aφ, sem grandes problemas. Mas um amigo sugere invadir computadores militares e vender a informaτπo para os russos, atravΘs da embaixada soviΘtica em Berlim Oriental. Como forma de equilibrar o poderia militar americano e soviΘtico. Karl entπo estß pirado. Seu pseud⌠nimo, Hagbard Celine, tirado do her≤i que tenta acabar com o poder dos illuminatii, acaba ficando famoso e ele vira uma atraτπo para o Serviτo Secreto alemπo, que comeτa a espionß-lo. Como precisa cada vez mais de dinheiro para sustentar o vφcio de cocaφna, as contas telef⌠nicas internacionais, etc, etc, ele resolve vender uma reportagem de invasπo de um computador de usina nuclear. Nem vou falar dos amigos e das paran≤ias. Nesse ponto, o filme faz quase um documentßrio do que Θ alguΘm ficando paran≤ico a ponto de pular de um carro em movimento achando que estß sendo perseguido. O sujeito termina topando colaborar com o Serviτo Secreto em troca de absolviτπo e morre em circunstΓncias para lß de misteriosas, em uma floresta. O grande detalhe. Morre no dia 23 de maio de 1989. Queimado. Sem os tΩnis. O fogo ficou controlado dentro de um pequeno cφrculo, sem se espalhar. Muita gente ainda acha que nπo foi suicφdio, mas uma execuτπo, talvez atΘ dos Illuminattii. O diretor Hans-Christian Schmid estß mais interessado na idΘia de passar o idealismo da coisa do que realmente investigar esse lado "estranho" da hist≤ria. Mas a idΘia central do filme Θ boa. Mais ou menos repensar o ativismo hacker como uma retomada do tempo das grandes passeatas contra o Vietnπ, o imperialismo americano e outras coisas que aconteceram inclusive no Brasil, durante os anos 60. Contestar a autoridade. Nesse ponto Θ preciso relembrar a hist≤ria. Havia uma ditadura no Brasil e na maioria, s≤ os estudantes Θ que fizeram oposiτπo ao regime. Mesmo entre aqueles que fizeram a luta armada, havia uma altφssima proporτπo de elementos vindos do movimento estudantil. Mais ou menos o filme faz uma ponto entre este estudante que foi a luta contra a repressπo e os estudantes como Koch, que se engajaram num tipo de ativismo feito por computador. E que estß acontecendo atΘ hoje. Se ontem o jeito de chamar a atenτπo para causas nobres era o protesto feito em passeatas, agora isso tambΘm estß sendo feito via computador. Vamos torcer para que a coisa sempre se desenvolva de forma adequada, sem vandalismo in·til. Pois hß uma grande diferenτa no ativismo, entre se fazer ouvir (e todo mundo ficar sabendo que hß um problema tipo o do Mitnick ou de Timor Leste) e fazer barulho e todo mundo mudar o canal da TV. (*) ainda nπo li, se alguΘm tiver, me dß um toque, estou procurando. Desconfio que os illuminatii tenham comprado todos em todos os sebos e queimaram para evitar a divulgaτπo. Bibliografia: Hans-Christian Schmid: 23 - Nichts ist so, wie es scheint. Disponφvel em .http://www.jump-cut.de/filmkritik-23.html . Acesso em 28/08/02.