Barata Eletrica27:(entrevist27.txt):13/10/2002 << Back To Barata Eletrica27


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Cunha Eu nπo sou a melhor pessoa do mundo para falar em entrevista. Jß fui entrevistado vßrias vΩzes, inclusive na TV (no SBT, tenho a fita para comprovar). De lß para cß, tenho recusado fazer isso (apesar que se o J⌠ me convidar, sei nπo). Quem nunca teve a vontade de aparecer lß? Acho que s≤ quem nπo viu televisπo. Seja no J⌠ Soares, seja na Marφlia Gabi Gabriela, seja onde for. Conheτo a sensaτπo de ser entrevistado. Dß um "barato" que dura dias. VocΩ fica incapaz de raciocinar de forma adequada. Quase fui assaltado, uma vez (nπo pelo entrevistador, ≤bvio, Θ que dei mole quando saφ para comemorar e um bando de pivetes veio atrßs). Hackers sπo seres humanos (independente do que vocΩ considere hacker) e passφveis de ficarem vulnerßveis numa dessas. Sobre os rep≤rteres, jß nπo tenho tanta certeza. O problema deles Θ que quando conseguem um trabalho, defendem com unhas e dentes. Fazem a matΘria sobre vocΩ e depois o editor.. edita. Corta e recorta, faz um troτo. Para que serve uma entrevista Basicamente, para se promover. VocΩ pode ter a fantasia de que serß lindo e maravilhoso, ver sua cara e ouvir sua voz lß na telinha. Seria legal todo mundo ter aqueles "15 minutos de fama" que o Andy Wharol falava. Alguns vπo ter essa fama quando aparecerem nas pßginas policiais. Outros quando aparecer o aviso f·nebre. Mas voltando ao assunto, essa coisa de falar que a pessoa parece ator e portanto poderia aparecer na TV nπo significa nada. Veja o caso de B≤ris Karlof, Ernest Borgnine e o pr≤prio Charles Bronson. Vai tambΘm ver os programas do Faustπo, do SΘrgio Malandro ou do Ratinho para ver outras formas de aparecer. Entπo, aparecer na TV Θ algo que se pode atΘ contar para os netinhos. Por isso se compra aquelas cΓmeras de vφdeo. Aparecer numa notφcia, ≤timo. Agora, aparecer num Talk-Show, isso Θ para quem pode. ╔ preciso ter algo a dizer. Hß muitos boatos atΘ que o sujeito paga para aparecer, que nπo Θ de graτa. Sei lß. Vendo o que aparece, acredito que tem dois tipos de pessoas que aparecem nos Talk-Show: os que sπo de interesse do p·blico e os que sπo de interesse da emissora. S≤ isso explicaria umas entrevistas onde o sujeito tem que tirar "sangue de pedra" para ver algo interessante sair. Ainda me lembro do J⌠ Soares tendo um "surto" de raiva com um entrevistado que deu comida de presente (sendo o J⌠ gordo, poderia ter tudo a ver, mas o cara faz regime). Mas para quem precisa lanτar um livro, um espetßculo, quem precisa se promover, um Talk-Show Θ o caminho para sair do anonimato. O problema Θ o que acontece com a vida da pessoa, depois. Minha experiΩncia Umas 3 ou 4 entrevistas que dei acabaram saindo em publicaτ⌡es. Como jß comentei em outros textos, algumas tinham exageros fantßsticos. Num paφs de analfabetos funcionais (gente que sabe ler, mas que nπo lΩ com a devida atenτπo), isso Θ meio perigoso. Virar notφcia foi legal para o fanzine, porquΩ consegui que gente do norte ao sul do paφs soubesse o que Θ hacker e o que nπo Θ (pena que isso foi esquecido rßpido). A idΘia era fazer uma grande associaτπo de "manφacos de computador" que se reunisse em Sπo Paulo ou outro lugar. Ou melhor ainda, que todo lugar tivesse seu grupinho de fuτadores (ou fussadores) que poderiam ou nπo se intitularem hackers ou coisa do gΩnero. Com a minha ajuda, durante um tempo teve gente aqui em Sampa se reunindo, chegavam a ser 20 ou 30, durante um tempo, em Pinheiros. Todo mundo virou "hacker", a coisa comeτou a declinar e s≤ alguns continuaram. Mas a imprensa escrita foi importante. A ·nica entrevista onde minha voz apareceu sem ediτ⌡es foi uma que fiz junto com um outro fussador, para a rßdio Globo, creio eu, acho que em 1995. Algum dia vou colocar trechos dela online. Foi um sucesso e depois pintou a entrevista com a Super-Interessante, que realmente divulgou o fanzine. Era um tema novo, ninguΘm sabia muita coisa. No inφcio foi legal, mas depois comeτaram a pressionar por coisas ligando hacker a vandalismo e crime por computador. Tenho orgulho de dizer que sempre consegui me esquivar de reportagens que iriam para as pßginas policiais. O esquema da entrevista Primeiro: Nπo vπo te pagar por ela, a nπo ser que vocΩ seja o PC Farias ou o irmπo do Collor. 99% das pessoas entrevistas estπo recebendo por conta da divulgaτπo de seus produtos. O entrevistado estß na verdade fazendo propaganda e o entrevistador, defendendo o dele atravΘs da propaganda que rola nos comerciais. Nπo custa pedir, dependendo do tipo de problema que a divulgaτπo vai te trazer. VocΩ pode precisar da grana para sumir do mapa, depois da entrevista. Pessoalmente, nπo aconselho a nenhum pretendente a "hacker", "cracker", a fazer entrevista sem considerar esse barato. Se eu topar alguma entrevista em talk-show, Θ porquΩ quero divulgar meu trabalho no fanzine usando a entrevista como "gancho". Segundo: Rep≤rteres e entrevistadores nπo manjam patavinas do que vocΩ irß estar falando. No caso do assunto "hackers" eles podem atΘ entender que existem "bandidos" e "mocinhos". Mas isso nπo quer dizer muito, jß que terπo que fazer perguntas de forma a explicar o assunto para o p·blico. Terceiro: Existe uma equipe encarregada do Talk-Show. . Eles tem o "ponto eletr⌠nico", que Θ um fone de ouvido onde recebem instruτ⌡es da equipe. E nπo decidem na hora o que vπo perguntar. Eles tambΘm tem um roteiro ou "cola" do assunto. Tudo Θ planejado com antecedΩncia. O trabalho do entrevistador Θ mais ou menos tornar tudo algo mais "vivo". E Θ o que faz a diferenτa, porquΩ algumas vΩzes o conte·do da pessoa nπo contribui muito. Lembro da entrevista da Tiazinha com a Gabi-Gabriela e a da Carla Perez sendo entrevistada pelo J⌠ Soares, bom, nπo dß para dizer muita coisa.. O sujeito que estß lß sendo entrevistado Θ mais um boneco de decoraτπo do que uma pessoa. ╔ que nem beijo de novela. O Talk-Show em si Θ um programa como qualquer outro. Foi inspirado em programas americanos. ╔ entretenimento em forma de entrevista. A arte estß em fazer o telespectador se sentir como alguΘm que estß sentado ali do lado. O fato do J⌠ Soares tirar sarro do entrevistado nπo Θ s≤ para o divertimento do p·blico: Θ uma forma de provocar o aparecimento de alguma coisa interessante. NinguΘm quer falar que faz jß soltou peido dentro de elevador nem que molhava a fralda quando pequeno. Acertando a entrevista Algo interessante de se fazer Θ jß ter planejado o que se vai e o que nπo se vai falar. Provavelmente alguΘm da equipe do entrevistador vai te perguntar isso. Quem faz isso para a maioria das pessoas sπo profissionais de Relaτ⌡es P·blicas. ╔ ele que monta o roteiro da entrevista, com sugest⌡es para os pontos fortes e fracos. No caso de um "hacker" (hahahahahahahahahahaha - desculpe, mas tenho que rir quando lembro de alguns que apareceram na TV e de gente que.. deixa para lß) provavelmente o cara iria lß como notφcia e nπo como algo pautado. No caso da entrevista que eu diria "pautada" (com roteiro mais ou menos acertado de perguntas e respostas), aφ realmente acontece aquela coisa gostosa das perguntas e respostas. Principalmente porquΩ o entrevistador pode nπo seguir a pauta e conseguir uns "lances incrφveis" do entrevistado. Fica visφvel, a arte. Como eu sei disso? Bom, conheci um grande fuτador de micro que Θ filho de alguΘm lß da tal equipe do programa. Tinha tambΘm um carinha que participava dos encontros aqui em Sπo Paulo que se gabava de entrar no email do J⌠, no tempo em que era do SBT. ╔ constrangedor saber que tinha mensagens meio.. bom, deixa para lß, provavelmente o email do J⌠ nπo era usado s≤ pelo J⌠. Acho que o cara tinha a caixa postal inteira, do tempo em que o SBT comeτou com o sol.com.br, mas apagou a coisa quando rolou a.. Θ melhor deixar esse material para o livro. Voltando aos acertos, Θ besteira alguΘm achar que pode chegar na TV e ter certeza que nπo vπo filmar um monte e s≤ usar trechos especφficos da gravaτπo. Quando apareci na TV, foram umas 2 horas de preparaτπo e s≤ usaram 20 segundos da minha fala, diluφdos no meio de 2 minutos de imagens variadas. Eu tenho a suspeita que aqueles intervalos entre uma e outra piada do J⌠ tem cortes fantßsticos. O programa talvez nπo seja digamos "ensaiado", mas tenho d·vidas de que nπo seja "editado". Se isso nπo ocorre em Talk-shows, acontece na maioria das entrevistas. Fazendo sua pr≤pria pauta Nπo Θ lance que se faτa de um dia pro outro. Nπo se pode pedir para alguΘm fazer porquΩ Θ besteira, se a pessoa nπo sabe o quΩ vocΩ quer divulgar. └s vΩzes nem vocΩ sabe direito. No meu caso, se eu fosse num Talk-show, iria divulgar a diferenτa entre esses caras que estπo produzindo livros sobre o assunto versus o que realmente vi e conversei com muita gente, quando s≤ os bons de informßtica Θ que trafegavam na internet. Era uma Θpoca em que vocΩ nπo tinha Windows para ajudar e era trabalho atΘ para saber o quΩ fazer. Nπo era o vandalismo de hoje. Claro que algumas coisas precisam ser reformuladas. Falar de criaτπo de vφrus num tempo em que isso se transmite via internet Θ besteira. Melhor comentar "pesquisas no campo da inteligΩncia artificial". Os caras que conheci que mexiam com isso viam um vφrus de computador realmente pensavam mais dessa forma (eram do tipo que inclusive nπo soltavam suas criaτ⌡es). ╔ mais ou menos como ser parado na rua. A polφcia te revista (coisa muito comum, quando se Θ jovem, pelo menos no meu tempo de adolescente era). O policial encontra algo "estranho" e pergunta se Θ para defesa pessoal. Se vocΩ responde que sim, ele pode te colocar "portando arma ofensiva". Aφ o juiz depois dß voz de prisπo, porquΩ estar na rua com arma ofensiva pressup⌡e intenτπo negativas, etc, etc.. exemplo meio idiota, mas Θ por aφ. ╔ perigoso falar para todo mundo o que vocΩ faz, se vocΩ nπo sabe como isso pode ser mal-interpretado. Por exemplo, a primeiro coisa que eu colocaria seria o fato de que apenas escrevo sobre o assunto e estou iniciando o doutorado nesse tema. Sei muito porquΩ pesquiso isso pra caramba desde que fui para a Argentina, jß escrevi para publicaτ⌡es "hacker" antol≤gicas, como o "2600-Hacker Quaterly", fiz o primeiro fanzine brasileiro sobre o assunto, de certa forma iniciei a moda de "quero ser hacker, me ensina", mas que nπo invado computadores de ninguΘm. O fanzine alißs Θ mais sobre Θtica hacker. Invadir computadores seria o mesmo que usar uma camiseta escrito "me prenda". Numa segunda parte da entrevista explicaria como foi que a publicaτπo comeτou, o que era o tal "computer underground", minha participaτπo na "FREEKEVIN", que para quem nπo sabe comeτou no Brasil, em Porto Alegre. Daφ para frente poderia falar de muita coisa, desde as mudanτas na legislaτπo para tentar prender esse pessoal (como aconteceu com um rapaz de 14 anos, que invadiu um sistema de uma fßbrica de bombas nucleares nos EUA). Poderia contar vßrias caracterφsticas do Computer Underground, como funciona (se nπo tirarem muito o sarro da minha cara). E l≤gico, tudo no passado, porquΩ falar do presente Θ expor muita gente que hoje jß mudou de vida e nπo trabalha mais na (in)seguranτa informßtica. Na verdade tudo poderia falar sobre esse lado vital para a soberania nacional, que Θ a seguranτa informßtica. Se os EUA consideram o uso de "hackers" como arma de guerra (vide a guerra do Golfo e os conflitos nos Balcπs), o Brasil deveria fazer um estudo mais aprofundado, jß que os sistemas operacionais mais usados no Brasil sπo de origem americana e sujeitos a terem problemas, em caso de necessidade. ╔ um verdadeiro absurdo que se saiba tπo pouco sobre o assunto. Para terminar, iria falar de algumas dificuldades relativas ao inφcio do Doutorado e no mercado de trabalho, por conta de ter feito nome nessa ßrea. Enfim, isso acima Θ sugerir uma pauta. ╔ colocar os assuntos que interessam e que podem ser de interesse deles. Deles, subentenda-se os anunciantes e o p·blico. Tire da cabeτa qualquer idΘia que vai ser um "barato" conversar com o J⌠ ou com Marφlia Gabi Gabriela frente a frente. Quando se Θ entrevistado sem experiΩncia, a pessoa fica num medo horroroso. Nem sei como os caras conseguem desinibir os entrevistandos. O chato Θ que o sujeito que "trava" com medo fica "ruim", nπo exp⌡e o assunto. Jß teve sujeitos no programa do J⌠ que iam lß para expor sua m·sica e na "canja do J⌠" foram tocar alguma coisa tipo Vinφcius de Morais (ou seja, nπo expuseram coisa alguma deles). O espectador tΩm uma impressπo que aquilo ali Θ um bate-papo que raras vΩzes a gente vΩ na vida real. Na verdade Θ um enorme esforτo de equipe, onde o cara tem que suar para parecer que Θ "autΩntico", "espontΓneo" e "interessante". Cada minuto naquele horßrio sπo milhares de Reais em preparativos. E se vocΩ sonha com aquele carinha que vai te tornar famoso, falando na TV, de graτa, numa conversa como se vc fosse uma visita que estß chegando, esquece. Tudo aquilo Θ "show-business". S≤ com muita assessoria de imprensa vc chega lß. O mais provßvel Θ que usem uma fala sua, tipo "invadi a Nasa" no meio de duas horas de fala, para ilustrar alguma ilegalidade. Outros tipos de entrevista Bom, escrevi tudo aquilo acima pensando no Programa do J⌠ ou no da Gabi. Hß programas e programas. Claro, estß desesperado para aparecer, vai lß Faustπo. Ou no Ratinho. Talvez no Joπo KlΘber. No Marcos Mion. Acho que atΘ o Clodovil faz entrevista. Mas cuidado. Me contaram que teve uma menina fez isso para divulgar o livro dela. Ouviu umas perguntas do tipo: "vocΩ topa transar com mulher" e sobre o livro, nπo perguntaram nem deixaram falar nada. Outro tipo de entrevista Θ aquela para "p≤s-graduaτπo" de alguΘm. Beleza. Estou atΘ pensando em xerocar o resultado de umas entrevistas de colegas meus. Pegaram umas frases fora de contexto (tinha "hacker" falando de filho) e usaram como pretexto para defender um texto que sei lß, nπo tem muito o que ver e que a meu ver, nπo contribui muito para elucidar o que se propunha. Talvez esteja vendendo por aφ, jß que Θ um livro que tem "hacker" no tφtulo. O trabalho do sujeito Θ tπo incompleto que nem menciona o Barata ElΘtrica na bibliografia. Para quem faz p≤s-graduaτπo que nem eu, isso Θ uma heresia. As chances de alguΘm de se divulgar atravΘs de trabalhos acadΩmicos Θ mφnima. O verdadeiro tempo para aparecer como "hacker", seja do bem ou do mal, esse jß se foi. Quem se promove hoje, Θ para ver se alavanca a carreira ou exalta o ego. E se nπo tomar cuidado, vai sofrer perseguiτπo de vßrios tipos, por conta do que falou (ou do que resolveram mostrar dele). Hß exceτ⌡es: Richard Stallman, que estß divulgado o software GNU, (uma alternativa gratuita e disponφvel ao Windows e Microsofts da vida). Esse realmente merece a denominaτπo de "hacker", legφtimo.