Barata Eletrica nº21:(ESCUTA21.TXT):23/07/1999 << Back To Barata Eletrica nº 21
O Filme "The Conversation" e a realidade dos grampos Derneval R.R. da Cunha [Foto da pßgina http://www2.micro-net.com/~toady/hackman/ Images%20for%20Gene/Conversation/con1.jpg] O filme talvez sirva de exemplo para muita gente. Poderia falar de maridos ou esposas que tiveram sua vida vasculhadas por conta de ci·me. Ou empregados que tambΘm foram objeto de desconfianτa por parte dos seus patr⌡es, como acontece no caso de lφderes sindicais, gente que resolve reclamar de alguma coisa a qual tem direito, etc, etc.. O filme, disponφvel em vφdeo seria um bom manual para aqueles que nunca pensaram em coisas como privacidade. Comeτa com uma simples conversa no parque, que Θ monitorada por uma equipe de gravaτπo. O local de encontro, um parque jß apresenta uma dificuldade para qualquer araponga. Andando em cφrculos, jß se evita alguΘm que esteja seguindo. Sendo o itinerßrio aleat≤rio, o uso de microfones escondidos em lugares estratΘgicos Θ impensßvel. Sobra uma equipe composta tanto de gente com super-microfones de longo alcance, colocado no topo de prΘdios, como se fossem franco atiradores. Tais equipamentos conseguem captar a voz humana atΘ 200 metros de distπncia num dia claro e sem ruφdo de trßfego. O problema Θ que quando o casal passa por um arbusto, tal trecho da conversa se perde. Para ter um quadro completo Θ necessßrio ter pessoas, vestidas como gente comum, com gravadores poderosos dentro de embrulhos ou outros disfarces. Um fone de ouvido especial garante que o araponga seja avisado para nπo causar suspeitas grudando demais. Todo o pessoal coordenado de dentro de uma kombi com vidros espelhados. De acordo com o filme, esse tipo de operaτπo Θ a mais cara, a mais difφcil e problemßtica. ╔ o ponto de partida para uma galeria de situaτ⌡es envolvendo invasπo de privacidade na vida cotidiana. Para americano, privacidade Θ um must. Aqui no Brasil nπo. O cara que pensa em privacidade se vΩ logo de cara com a pergunta: - O quΩ, vocΩ tem alguma coisa a esconder? Aφ vocΩ vai ter que falar tudo e atΘ mais, porque a pessoa agora quer que vocΩ prove que nπo Θ um meliante. E pior, nada impede de ser um meliante, a pessoa que te pergunta. Voltando ao filme. A hist≤ria Θ de um sujeito que ganha a vida fazendo escuta eletr⌠nica para empresas e pessoas fφsicas. Casos difφceis. Nada a ver com o governo, mas isso s≤ fica claro mais tarde durante a hist≤ria. O personagem, Caul, interpretado por Gene Hackman, fica com um drama de consciΩncia por nπo saber o fim para o qual sua escuta serß usada. Principalmente porque o contratante resolve nπo receber pessoalmente a encomenda, regra bßsica para esse prestador de serviτos. Isso gera discussπo. E ele acaba tendo sua vida espionada por outras pessoas a quem desconhece. Meio chato falar de um filme que provavelmente nπo serß encontrado na locadora. Melhor seria falar de "Inimigo do Estado" que versa sobre o mesmo tema, mas com outra hist≤ria. Mas prefiro usar o filme como esqueleto para comentar o assunto da escuta eletr⌠nica. A paran≤ia do personagem aumenta quando, ao sair do escrit≤rio do contratante, ele vΩ no corredor, as pessoas cuja conversa gravou. Chega em casa, outra paran≤ia. Uma garrafa de vinho de presente, dentro do seu apartamento cheio de trancas e alarmes. Colocada pelo sφndico, que tem chave mestra e sabe seu nome, data de nascimento e outros detalhes pessoais, a partir de sua correspondΩncia. Bronqueado, vai visitar a namorada, que faz questπo de aproveitar a comemoraτπo dele e perguntar intimidades que ele nunca revelou como local de trabalho, etc.. ou seja, o cineasta vai colocando os reposit≤rios mais comuns de informaτπo sobre a pessoa, o porteiro ou sφndico e a namorada do cara. Em seguida, ele vai para o ambiente de trabalho. O funcionßrio dele tß curioso para saber qualΘ a da fita que ele nπo para de escutar. Ele briga com o cara (que acaba pedindo as contas) mas nπo fala. Vai para uma convenτπo de equipamentos de escuta. Lß recebe uma caneta de presente, vΩ varias demonstraτ⌡es de aparelhagens (todas agora quase obsoletas) e convida uma moτada (seus concorrentes) para fazer a festa no escrit≤rio. ╔ paquerado por uma mulher, Θ inquerido pelo maior concorrente e Θ paparicado de forma geral. Mais uma liτπo: O ex-funcionßrio dele resolve expor, no meio da bebedeira, o ·ltimo trabalho dele. Mostra tanto o perigo do funcionßrio insatisfeito, quanto o problema de uma festa, onde as pessoas acabam revelando mais do que deveriam por conta da bebida. Outra Θ o perigo do elogio, a pessoa ficando super feliz com as babaquices que falam dela, abre a guarda. O presente, outro perigo, pois a caneta que ele recebeu de brinde e colocaram na lapela era na verdade um microfone que captou vßrias conversas φntimas durante o evento. A ·ltima liτπo Θ o uso de uma mulher, que atiτa o cara (afinal, mulher gera maior confianτa para vßrias conversas) e depois da caminha, vai embora com a fita do caso, enquanto ele dorme (outro perigo, falar dormindo, mais uma liτπo). O filme tem vßrias ferramentas de escuta que hoje estπo obsoletas porΘm utilizßveis do mesmo jeito. Um Θ o microfone acionado a partir de outro telefone. O sujeito telefona para a casa dele, usa uma gaita para produzir um som antes de discar o ·ltimo n·mero e escuta tudo o que o ricardπo e a esposa dele estπo falando na sua ausΩncia, sem que o fone da casa nem saia do gancho. Fala alguma coisa de Phone Scramblers, que criptografam a voz, em suma, serve um pouco para ilustrar o assunto. Termina com o sujeito detonando a casa inteira, desmontando m≤veis e objetos pessoais apenas para se certificar que ninguΘm estß com um microfone escondido na residΩncia. Belo final. O preτo da liberdade Θ a eterna vigilπncia. A revista VEJA colocou algumas informaτ⌡es interessantes na ediτπo de 5/5/99. 5.000 detetives ou coisa do gΩnero ou operam no paφs, fazendo gravaτ⌡es ou escutas para maridos ou esposas com suspeitas de traiτπo, de filhos envolvidos com t≤xicos, roubos variados, funcionßrios disputando um mesmo cargo, advogados querendo saber o que os colegas rivais estπo fazendo, etc... Impressionante a quantidade de sujeito que paga uma grana s≤ pra saber se aquela coceira na testa Θ impressπo. De acordo com outro texto: Conjugues se grampeam direto Pais grampeiam filhos Homens de neg≤cios grampeiam sua concorrΩncia Cientistas grampeiam outros cientistas Advogados grampeiam outrosa advogados ou clientes Companias de seguro grampeiam suas vφtimas Vendedores grampeiam clientes Cobradores grampeiam os caloteiros Policiais grampeiam suspeitos Recursos Humanos grampeiam diretores de pessoal etc, etc.. Situaτ⌡es de alto risco sπo: Estar envolvido em algum escΓndalo financeiro ou litφgio Foi questionado, preso ou averiguado pela polφcia Estß se separando, divorciando ou casando ╔ alguma autoridade religiosa (padre, pastor, rabino, etc) Concorre a algum cargo p·blico ╔ cientista ou executivo de grande empresa Entrou com algum pedido de benefφcio da agΩncia de seguro Se envolveu em passeatas ou atividades polφticas Tß cheio da nota, tß muito influente ou em posiτπo vantajosa.. etc.. Algumas profiss⌡es correm mais risco do que outras, mas uma lista que Θ vßlida nos EUA nπo seria vßlida no Brasil. De acordo com a fonte Vicente Greco Filho para a reportagem da VEJA, qualquer pessoa que gravar a conversa entre duas outras estß cometendo um crime, pena de 2 a 4 anos, valendo para gravaτ⌡es nπo autorizadas. Se a conversa for gravada por uma das duas pessoas, deixa de ser crime, assim como a gravaτπo policial autorizada pelo juiz e aquela feita dentro de empresas, desde que o funcionßrio esteja a par (melhor nπo usar o fone no trabalho). Se a conversa Θ φntima pode ser crime, mesmo que feita por uma das duas pessoas. No livro "Dißrio da CIA", uma leitura antol≤gica naqueles anos de Watergate, guerra fria, espionagem industrial, etc, o autor, ex-espiπo a serviτo do governo americano, retrata seu treinamento e em duas pßginas, coloca algo sobre escutas e grampos, violaτπo de correspondΩncia e outras formas de invasπo de privacidade. Naquela Θpoca, 1960, ainda nπo haviam os telefones celulares. A escuta era feita principalmente atravΘs de troncos de linha telef⌠nica ou microfones ligados por fio atΘ um amplificador e gravador. Fala-se no texto de perfuratrizes especiais, capazes de colocar escutas sem deixar rastros. A abertura de envelopes, usando chapa quente, vapor d'ßgua e outros truques era empregada. Hoje, existem produtos que podem gravar uma conversa capturando a vibraτπo das vozes contra o vidro das janelas, usando raio laser. Um artigo da 2600 (acho que de apenas 4 ou 5 anos atrßs) listava todos os tipos de microfone em andamento, mas nπo estava com saco de reescrever o material muito menos traduzir. Existe realmente um grande n·meros desses aparelhos, que sπo denominados gadgets. Alguns sπo conectados a linha telef⌠nica, outros sπo escondidos em aparelhos de tomada, coisa que facilita a fonte de energia, grande problema quando uma escuta Θ prolongada. O tamanho diminuiu muito. De um abajur a um lΓmpada, qualquer objeto pode ter um microfone escondido. Tudo depende da utilidade: um microfone em forma de caneta Θ ≤timo por estar mais pr≤ximo da fonte do som, a boca do sujeito. No livro Jogo do Fugitivo, existe a menτπo de microfone instalado no ombro, para captar o sujeito que cochicha no ouvido do outro. A utilidade neste caso Θ usar a gravaτπo como prova. Nos EUA os caras necessariamente nπo precisam usar escuta, tambΘm usam leitura labial nos tribunais. Eu tenho a teoria que alguns jornalistas de hoje (aqueles que tem o dinheiro para tanto), usam estes tipos de microfone. Em vßrios casos em que fui entrevistado, nenhuma ou muito pouca anotaτπo foi feita. Truman Capote usou o truque de aprender a memorizar longos trechos de conversa e datilografa-los depois, evitando assim dois impecilhos: o constrangimento que um gravador coloca e o problema de anotar o que o entrevistado fala. ╔ bom porΘm frisar que existem microfones sem fio e os com fio, para complicar um pouco. Os de fio nπo podem ser detectados por aparelhos especiais. Em compensaτπo, sπo vulnerßveis a uma busca manual, simples. Melhor dizendo, vamos categorizar: A espionagem e os arapongas americanos dividem esta m(*) em 4 categorias: Hard - Quando existe acesso fφsico a linha de sinal (a linha do telefone). Faz se uma extensπo em cima. Bem fßcil de descobrir. Soft - Via software. O tipo que o FBI estß fazendo nos EUA e ACHO, estπo fazendo no Peru e TALVEZ no resto do mundo. Feito a partir da Central Telef⌠nica. Fßcil de achar num PBX. OBs: Nos tempos da antiga Telesp tinha rolado uma espΘcie de escΓndalo, parece que os funcionßrios encarregados da fiaτπo tavam (naquela Θpoca) recebendo uma nota de detetives caτa-ricardπo para fazer escuta direto na fiaτπo que corre por debaixo da rua. A coisa chegou a ser bem sΘria porque uma vez teve uma mulher que teve a conversa dela com o noivo (bem φntima, demaiiiiiis) transmitida por rßdio FM. Infelizmente nπo tenho o jornal nem a data em que aconteceu este escΓndalo. Juro que li. Por alguma razπo a mulher nπo aceitou uma troca de linha. O defeito nunca foi explicado. Escuta de gravador - apenas um cassete ligado ao tronco ou ramal, fßcil de achar e depende de trocas regulares de fitas. Escuta de transmissor - igual a anterior mas com um transmissor de ondas curtas conectado ao fio. Na verdade tem gente que usa fone sem fio (cordless phone) e nem desconfia que o vizinho pode ouvir toda sua conversa. Quando desconfiar que tem "boi na linha"? 1- Tem gente que conhece seus segredos e acaba mostrando de forma sutil 2- Encontros secretos nπo parecem tπo secretos 3- As pessoas parecem saber suas atividades quando nπo deveriam 4- Estranhos ruφdos no telefone tipo aumento ou diminuiτπo do volume, sem razπo. 5- Estßtica ou interferΩncia nas linhas telef⌠nicas. 6- Escuta de sons do seu telefone quando estß fora do gancho. 7- Seu fone sempre toca e ninguΘm estß lß, ou um tom estranho ou bip 8- Seu rßdio toca uma interferΩncia estranha 9- Sua TV ou rßdio pega interferΩncia estranha no UHF. 10- Foi vφtima de assalto, mas nada foi levado 11- O "espelho" do interruptor de luz foi mudado ligeiramente ou estragado (lugar bom pra bugs). 12- Cor estranha, do tamanho de uma moeda ou menor aparece na parede (cΓmera) 13- Kombi da empresa telef⌠nica ficando direto na vizinhanτa. 14- TΘcnicos da telef⌠nica aparecem sem serem chamados 15- Caminh⌡es estranhos ficam estacionados perto de casa sem ninguΘm dentro 16- "Estranhamento" quanto ao funcionamento de fechaduras 17- Movimento dos m≤veis para fora do lugar sem ninguΘm saber o porquΩ 18- Coisas aparecendo do nada no seu escrit≤rio ou casa, sem ninguΘm saber como chegaram lß.. 19- Presentinho tipo caneta, despertador, TV, (15% deles sπo batizados com alguma coisa dentro). O que fazer se vocΩ descobrir que foi grampeado? A primeira coisa Θ se perguntar antes de sair procurando. SE vocΩ resolver tomar uma atitude a respeito e pegar em flagrante o araponga, vai ter que bancar um ator profissional e nπo Θ fßcil. Conseguir fazer isso Θ ser mais safado do que as pessoas que te colocaram o lance. SE nπo tomar nenhuma, faτa pelo menos um escΓndalo, por um tempo ficarß seguro. Depois quem sabe.. De resto: Nπo pergunte aos outros, eles podem avisar ao cara que colocou. Nπo discuta isso com ninguΘm que possa estar conectado ao assunto. Se o dono da escuta ficar sabendo, pode tirar o aparelho e recolocar quando a poeira abaixar. Maneira o que vai dizer no local suspeito ou perto dele (de fato, qualquer lugar de uso cotidiano passa a ser suspeito) onde haja chance de ser escutado. Nunca use o telefone pr≤prio do local e menos ainda pense num celular. Usar o fone de casa tambΘm Θ bobagem. Principalmente se vai chamar algum perito no assunto. Pra finalizar, uma daquelas lendas ßrabes (ou indianas): Um dia, o rico mercador foi chamado pelo seu empregado mais antigo que queria conversar "em particular", imediatamente. Dito e feito, contou que acabara de surpreender a esposa deste com um amante e que esta, ao ve-lo escondera o rapaz dentro de um ba· enorme e forte do qual s≤ ela tinha a chave. Colocados os trΩs numa sala, a esposa negou tanto ter a chave quanto o fato de que havia traφdo. Que fazer, pensou o mercador? De um lado, o empregado que durante tantos anos era fiel e obediente. Do outro, a esposa, dona do lar, patroa, mπe dos filhos dele. Serß que a palavra de um servo fiel vale mais do que a do conjuge? Pensando bem. Duvidar da palavra do empregado e nπo abrir o ba· seria perder sua confianτa. Se o patrπo nπo confia nele porque haveria de preveni-lo no futuro em outro assunto de importπncia? Abrir o ba· seria duvidar da palavra da esposa e tambΘm perder uma ≤tima conjuge, dona de casa, etc tanto no caso de haver um ricardπo lß dentro como no caso contrßrio. Se o empregado nπo estiver mentindo, beleza, o empregado pode servir fielmente ainda muitos anos. Mas se separar da mulher vai dar um trabalho enorme, os filhos nπo vπo aplaudir a decisπo e a futura esposa terß mais medo do empregado do que do marido. O mercador ficou um dia inteiro olhando para o ba·, se iria ou nπo abri-lo. Depois chamou homens fortes e com a ajuda deles carregou a peτa para uma trilha dentro da floresta. Chegando numa clareira, ordenou que abrissem um buraco profundo, no qual enterrou o ba·. Sem o abrir. Encerrou o problema. 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